sexta-feira, 23 de julho de 2010

Butterfly

Estava escuro e frio. Eu andava a sós comigo mesma, nem mesmo minha sombra ousava perturbar meus passos, meus pensamentos e devaneios. Então, na calada de uma senda escura ela surgiu assim, de repente. Chegou sem pedir permissão e já foi tomando conta de meus passos e pensamentos. Seguia-me incansavelmente. Seguia-me como desejos à volúpia. Seguia-me como sonhos ao poeta. Seguia-me, seguia-me... Eu ouvia seus passos e corria como diabo à cruz. Corria porque não queria me deixar levar por uma súbita loucura. Corria porque tinha medo de abandonar meus sonhos. Mas, ela me seguia. E insistentemente me seguia... Desisti de fugir. Cansei de correr. Ela me perseguia e aquilo estava me enlouquecendo de verdade, e embora eu soubesse que ainda poderia me livrar da perseguição eu decidi por enfrentá-la. Afinal, ela não poderia ser tão mais forte que eu... Simplesmente eu a venceria de qualquer forma.
Ah... Como somos tolos diante de tal situação. Como nos tornamos cegos e loucos!
Então parei. Estática e olhando-a firme nos olhos. Via aquela imagem cega aproximar-se e sentia meu corpo ser envolto por luz e sombras, melodias e perfumes, ilusões, fantasias. Ela aproximava-se de mim sorrateira e graciosamente. Mas, tão avassaladora que mal podia acompanhá-la com os olhos. Ela se mostrava tão bela e atraente, no entanto,era ilusão! Só podia ser!
Chegou e encantou-me com sua graça. Eu tinha sido envolta em teus laços sem mesmo saber disso. Então perguntei: - Quem és, realmente, tu? Por que sempre me persegues? Qual é teu nome?
Ela docemente sorriu, sua imagem cega agora tomava belas formas que ainda sim, me é impossível descrever. Ela delicadamente olhou-me com teus olhos de cândida perfeição e proferiu tais palavras:
- Sou aquela que segue os passos te todos aqueles que se deixam fantasias... Sou quem mais persegue a alma dos homens, sobretudo dos poetas. Sou aquela que te oferece o Sol sem lhe mostrar o quão importa as estrelas. Sou quem lhe dá uma mão para reerguer-se e um pontapé para seguires em frente. Sou a quem pode lhe destruir e também lhe renovar. Sou quem lhe refaz ou destroi o coração. Sou a que lhe faz sonhar. Temida e desejada. Chamo-me Paixão.
Assustei-me ao ouvir tais palavras, não sabia que era ela. Ao menos fingia que não. Não podia ser simplesmente. Tanto fugi e agora, ela conseguira alcançar-me e pior, envolver-me em tua graça. O que poderia fazer? Já tinha me deixado levar... E enquanto pude ver tua imagem, ao meu lado ela sempre estava, segurando-me pela mão e mostrando-me o caminho a seguir. Mesmo que temida não era tão má assim. Mostrou-me lindos lugares, cenas fantasíacas com as quais tanto sonhei. E enfim, a um ponto da estrada ela parou e não mais caminhou ao meu lado. Senti um frio e desespero achando que tinha deixado meus passos. Mas, então, ela voltou com um belo cavalheiro de longos cabelos e ricas vestes. Tomava-o pela mão assim como fizera comigo e sorria tão deliciosamente que não pude deixar de sorrir também. O belo cavalheiro prostou-se diante de meus olhos e tomou-me pela mão. E então a Paixão nos deixou. E mesmo assim estávamos interligados por alguma sensação estranha que nos aquecia, nos envolvia em um doce mistério ao mesmo tempo em que tínhamos também receio... Medo talvez. Contudo eu sabia... Em meu íntimo eu compreendia que ela continuava entre nós, mas sob outra forma. A Paixão era como a borboleta de meu jardim. E em sua metamorfose, em todo aquele tempo de caminhada tomara outra forma. Outra imagem de luz. Bela, indescritível e ainda sim um tanto cega. Não a podia enxergar inteira e mesmo assim, eu a via completamente. Não a podia sentir e mesmo assim, sabia que estava entre nós. Entre aquele vago espaço que ficara entre mim e o nobre cavalheiro o qual já tão intimamente conhecia de meus sonhos. Enfim... Realidade. E aquela presença oculta também sentida por ele, eu tinha certeza, era a outra metade dela. Era o último e mais feliz estágio metamorfósico da Paixão...
Porque naquele momento eu sabia que enfim, a lagarta havia se tornado borboleta. Eu tinha certeza que ela havia já aberto suas asas brilhantes tão azuis... E voou. Eu tnha certeza, a Paixão transformara-se em Amor.